Houve, para ela, um dia,
em que, ao olhar-se no espelho,
percebeu a face marcada,
e, em lugar de moça formosa,
vinha surgindo uma idosa.
Mas, em seus olhos bonitos,
já quase ficando aflitos,
percebeu um brilho diferente,
poder-se-ia dizer atrevido.
Olhou-se com mais atenção
e viu que o tempo,
que ela julgava perdido,
só fizera marcar a face,
para que cada linha expressasse
tudo o que fora sentido:
não só o que fora sofrido,
quanto o tanto já sorrido.
Suave veio o pensamento
de que viver
é mais que sobreviver;
é existir com amor,
tanto com o rosto marcado,
quanto com o frescor
da juventude,
que passa,
mas que traz tanta graça
quanto pode trazer beleza
a madureza.
Permitiu-se um riso maroto,
piscou para si mesma com gosto.
Lembrou-se de que ser consciente
é exercitar a sabedoria
de que tudo é impermanente.
Apagou a luz do espelho,
acendeu sua alegria
e foi cuidar do seu dia.