terça-feira, 29 de maio de 2012

Borboleta



Se te invade a dor e a dúvida
e teu peito se aperta tanto;
se já sabes o resultado
por tantas vezes ter experimentado
o mesmo de sempre que te atormenta,
por que voltas e revisitas
tantas lembranças tristes e sombrias?
Será que procuras por pistas,
algo que vá te elucidar
o  porquê do que houve em tua vida,
sobre tudo o que te aconteceu?
Por que não pensas no passado
como algo que acabou, que morreu?
Ainda achas que poderia ter sido diferente,
que poderias ter feito algo ou não 
e que dependia de ti a solução?


Lamento te decepcionar,
não há meio de o tempo voltar.
E mesmo que eu saiba que isto tu sabes,
repito pois o que tu fazes,
é insano, é inexplicável,
o passado é mesmo irremediável.
Sim, por mais que seja clichê,
a verdade é que ele não volta.
Mas também é verdade que, se deixares,
um dia a dor de ti se solta
e te verás livre finalmente.
Então farás tão somente
o que te trará alegria. 

Terás surgido como borboleta,
linda, leve e colorida,
do casulo estreito e apertado
tecido por ti mesma no passado,
para desfrutar bela e plenamente a vida... 


terça-feira, 22 de maio de 2012

Paralelo



Vives o tempo todo a analisar,
buscando para tudo explicações.
Gostas de tudo esmiuçar
e te exasperas quando à tua frente vêm os senões.
Pensa no tempo que é mesmo paradoxal:
tu o sabes veloz quando vêm as alegrias,
nessas horas, dele quase nem sentes sinal.
Ao contrário, ele é lento,
chegando às vezes a ser terrivelmente modorrento,
quando fazes o que não te interessa.


Ao tempo já se teceram infindáveis elegias,
buscando nele a lentidão ou a pressa.
Percebes o paralelo que estou a traçar?
Não é o tempo ou as coisas que contêm as respostas,
é apenas o modo como tu sentes
o que fazes ou o que te acontece.
Pois para ti tenho uma proposta:
busca em tudo o amor imprimir
e ele será o carimbo factível
que mostrará a ti as soluções que pedes.
Se envolver com amor tudo o que percebes
serás capaz de ver todos os detalhes
de tudo o que vives a analisar,
de tudo o que te pões a esmiuçar.
E terás enfim toda a explicação possível,
aquela que passas pelo tempo a buscar...

sábado, 19 de maio de 2012

Tempo das cruzadas

Como está na apresentação deste blog, meu objetivo é compartilhar minhas reflexões, especialmente aquelas que vêm em versos e, se fizerem sentido para alguém, que possam ser aproveitadas.
Ontem à noite me vinha à cabeça um verso de uma que escrevi em 2010 "...o tempo das cruzadas já passou..."
Não conseguia me lembrar do resto, então procurei e hoje a localizei nos meus arquivos.
Para mim, foi muito forte e importante naquele momento!
E, como veio tão forte em minha mente ontem, me ocorreu que agora é a hora de divulgar ao "universo". E penso que o meu universo é você que me lê...


Se a dor te confrange o coração,
abre-te à possibilidade da consolação.
Tudo o que se quebra pode ser consertado,
mesmo que exiba a marca de colado.
Construíste ao teu redor uma armadura
com o fim de proteger uma alma tão pura,
mas tiveste que enxergar não ser ela suficiente
para te manter inatingível eternamente.
Mesmo armaduras de ferro devem ser despidas
e então revelam o conteúdo existente:
por vezes denso e forte,  por vezes delicado e frágil.

Hoje te sentes atingida no teu ponto mais sensível
e tens dificuldade em te entregar, admitir que sofres.
Permite a ti sentir, admite que o sentido
é a expressão do que te vai no coração:
nada existe que não possa ser curado,
nada existe que não possa ser consertado.
É necessário, entretanto, que seja admitido,
pois o que fica no interior, escondido,
não permite que possa ser sequer olhado.

Admite, primeiro, a ti mesma a dor que sentes,
permite que ela se manifeste em toda a sua plenitude,
mesmo que penses não ser capaz de aguentar,
ou pior, que a negues, dizendo a ti mesma
que não tens motivo para chorar.

És guerreira, filha, mas o tempo das cruzadas já passou,
já não tens mais armaduras de ferro a teu redor.
Não cries armaduras de dor, é pior!
Ao admitir que és frágil e que precisas de ajuda
vários passos terás caminhado em direção à cura.
Entretanto, cabe a ti começar a ti mesma ajudar,
dando o primeiro passo em direção
aos que querem te apoiar.

Talvez já tenhas começado, quando te permitiste chorar
somente ao ler a oração de uma mãe
como tu, por seus filhos a clamar.
Tu pegaste nas mãos deles para ensiná-los a caminhar,
agora que aprenderam, libere-os, solte-os
e fique com tuas mãos livres para as nossas segurar.
Tu és, para nós, a criança que está aprendendo a andar!
Isto é tão verdade que as lágrimas vêm a teus olhos assomar;
deixe-as cair, fluir, estão tua alma a lavar...



terça-feira, 15 de maio de 2012

Interessante como as ideias vêm... Às vezes são claras, outras nem tanto. O que ocorre a você, amigo(a), ao ler os versos abaixo? Que título você daria?


Traz ela na face fria
o olhar intenso, aflito.
Sua postura é fugidia,
nada nela é bonito.
O que procura a triste menina,
vagando por rua tão escura?
O que ou quem a fez deixar de ser pura,
de ser só criança,
quem destruiu sua esperança?
Também ela não sabe contar,
tudo de que se lembra é de chorar,
de dor, de horror...
E eu estendo meus braços,
desejo ver brilho em seus olhos baços,
ofereço proteção e amor.
Ainda não sei sua resposta,
espero, reitero minha proposta,
intenso calor me acomete.
Pois por um segundo vejo
passar em seus olhos o lampejo
do desejo de acreditar.
Meus braços continuam abertos,
e ainda que demore um século,
é esse lampejo que sustenta
o meu desejo de acreditar
que ainda há esperança,
que a menina triste possa voltar a confiar,
até quem sabe um dia me amar...


terça-feira, 8 de maio de 2012

Lição do Viajante



Amigos, 
ontem li uma parábola muito interessante e ela me inspirou a recontá-la como segue abaixo. Assim, compartilho a minha mais recente reflexão. Será que a história também faz sentido para vocês?

"Um viajante solitário segue pela estrada
e mentalmente pede ao céu proteção.
Entretanto a noite é chegada
e sente o andante grande aflição.
Até onde a vista alcança não há abrigo
e ele pensa (até revoltado) consigo,
que se não há onde se alojar,
o único remédio é buscar
refúgio sob uma árvore frondosa.
Mas uma tempestade fragorosa
deita ao chão o tronco apodrecido.
E assim, de decepção em decepção,
por não achar o descanso desejado
nos lugares procurados,
chega a manhã radiosa,
trazendo a verdade preciosa:
cada lugar cogitado
era armadilha perigosa.
A proteção a ele enviada
fora justamente tê-lo mantido acordado.
E ao saber de tamanha bênção,
apressa-se o homem a agradecer,
pois reconhece em cada prova passada,
o quanto tinha que aprender:
paciência, atenção e cuidado,
são necessários em cada minuto do viver.
As provas por que se passa
não são castigo ou abandono,
são meros testes para aferir
o quanto ainda é preciso evoluir.
E o que parece às vezes sem sentido
bem pode ser entendido
como presente embrulhado.
Ao se tirar o envoltório,
desfaz-se o ilusório
e a verdade aparece para o presenteado."



terça-feira, 1 de maio de 2012

Intervalo


Entressafras são necessárias
para o descanso do solo
e devem existir várias
para se obter boa produção.
A trégua é imprescindível
quando as baixas são tantas,
e enquanto se espera a reposição,
prosseguir na luta não é possível.
Abaixar a cabeça é sensato
quando a derrota é fato
e a única solução é a rendição.
Entressafra, trégua ou rendição,
ações para o mesmo objetivo:
aprender, cultivar, crescer,
respeitar, desenvolver, evoluir,
enxergar o real, descobrir
que a verdadeira humildade
é parte da consciência da felicidade...